O evento contou com as presenças do diretor brasileiro Omar L. Barros Filho e de Antônio Zuheír Badra, um dos personagens do filme
Por Suely Melo
O Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB-São Paulo, um dos realizadores da 13ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, juntamente com o Instituto da Cultura Árabe (ICArabe), o Sesc e o Ministério da Cultura, e com copatrocínio da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, recebeu, nesta sexta, 10 de agosto, um debate sobre o documentário “A Palestina Brasileira”, com presença do diretor Omar L. Barros Filho.
O evento contou também com a participação de Antônio Zuheír Badra, um dos personagens do filme, que veio de Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, e mediação de Gabriel Bonduki, membro do Conselho Fiscal do ICArabe. A programação da Mostra vai até o dia 27 de agosto, com 23 produções (acesse o site para saber mais: www.mundoarabe2018.icarabe.org).
Com cenas filmadas no sul do Brasil e no Oriente Médio, "A Palestina Brasileira" revela as raízes, o grau de integração e a sensação de pertencimento de seis famílias alcançadas pelos preconceitos, perseguições e guerras. Questiona sua atual condição e mostra como homens, mulheres e jovens se situam frente aos seus direitos e aos valores éticos e religiosos de sua cultura tradicional. Leia aqui (https://www.icarabe.org/node/3361) a entrevista com o diretor sobre a produção.
Participação decisiva
Antônio Zuheír Badra é um dos personagens marcantes tanto na narrativa do filme quanto nos bastidores. Segundo Omar, a ida dele para a Palestina culminou em uma participação decisiva, além de reforçar a integração entre equipe e personagem. Isso porque, na ocasião das gravações naquele país, o exército israelense invadiu o hotel onde a equipe estava hospedada (a notícia do acontecimento está registrada no filme). “Horas antes, eu tinha entregue para o Antônio todos os chips das filmagens feitas e ele trouxe escondido, dentro das roupas usadas, pela Jordânia. Se tivessem encontrado na bagagem dos dois fotógrafos, não haveria o filme”, contou o cineasta. Ainda de acordo com Omar, dois dias depois desse acontecimento, no Aeroporto Ben Gurion, de Tel Aviv, quando retornavam ao Brasil, a câmera da equipe da Cena Um foi confiscada e não foi devolvida até hoje.
Para Antônio, que é empresário, advogado e professor universitário, participar deste trabalho foi surpreendente. “Inicialmente eu tinha recusado e o Omar, de uma forma espetacular, me convenceu. Disse que eu deveria participar, principalmente em Santana do Livramento/RS (cidade onde reside). Depois que as coisas foram se desenvolvendo, comecei a me culpar e dizer que bobagem eu teria feito na minha vida, se não ter participado desse filme”, lembrou. Então, surgiu a ideia de ir para a Palestina e como eu tenho parentes lá: tias, primas, aceitei. Foi uma das coisas mais maravilhosas que aconteceram na minha vida”, contou Antônio.
“O filme conseguiu mostrar a realidade do palestino no Rio Grande do Sul, a realidade da família do palestino, na própria Palestina, e mostrar a opressão que o estado judeu realiza em cima da Palestina, e essa vingança de querer que eles saiam das suas terras”, frisou. “Acho que o árabe e o judeu têm que se entender. Mas, lamentavelmente, há uma força maior da indústria armamentista, que sufoca tudo isso para que os Estados Unidos e as grandes potências possam vender seu armamento bélico para o mundo inteiro, inclusive para o mundo árabe”, lamentou. “Essa é a visão do filme. Omar foi muito feliz, ele mostrou a realidade, as pessoas, os locais, como se vive, a cultura. Foi fantástico”, concluiu.
Omar, em uma de suas falas durante o debate, ressaltou em relação à questão palestina que enxerga “uma tragédia política, militar. Porque, de alguma forma, eu vejo a história de um povo sendo manchada por um regime dos mais ferozes que existem no planeta”, disse.
O cineasta agradeceu sua participação da 13ª Mostra Mundo Árabe de Cinema e adiantou que já está planejando outra produção com temática árabe. “Como roteirista e diretor de ‘A Palestina Brasileira’, me senti extremamente honrado e feliz por esta oportunidade que a direção da Mostra deu de trazer nosso filme para um público diferenciado, de alta qualidade, que compreendeu perfeitamente e aprofundou as ideias apresentadas, após as sessões. É uma alegria”, comemorou. “Estou determinado a fazer um novo filme sobre o mundo árabe para retornar, eventualmente, se for convidado nas próximas mostras”.
Opinião
Presente na plateia, a professora e economista Amyra El Khalili, participou ativamente da discussão proposta pela mesa. De acordo com ela, o documentário é fundamental para a identidade e a autoestima do povo palestino. “Só somos retratados da pior forma possível, com estereótipos, com a imagem do palestino terrorista ou que ele está subjugado como se não tivesse inteligência e capacidade de conseguir sair da situação em que se encontra”, disse. “Mostra que independentemente de todos os problemas que enfrentamos, somos um povo de resistência, amoroso, querido e é essa imagem, que nós que somos palestinos, gostaríamos de ver na tela”.
Amyra também destacou a presença da mulher no filme de Omar. “É fortíssima. É uma mãe amorosa, uma mulher que dança, que dá um recado, um exemplo de mãe, de mulher e de liderança dentro da nossa coletividade”. Ainda de acordo com a professora, o documentário “marca um momento histórico no resgate da nossa cultura. Uma forma de dizer que não somos invisíveis, que temos sentimentos e queremos poder expressar as nossas opiniões, os nossos desejos”. “Quero agradecer à mostra, à Soraya Misleh, pelo lindo trabalho, e à Soraya Smaili, por ter carregado a mostra por todos esses anos. É um carinho grande saber que temos mulheres árabes à frente de uma questão que diz respeito a todas as mulheres do mundo e as nossas e ao nosso povo, que tem que resistir e persistir “, finalizou.